domingo, abril 21, 2002

Réquiem para Pedrinho

Agora há pouco, pensava eu, mesmo sem querer, nas coisas que acontecem na vida da gente. Quanto mistério há na intenção da natureza! Quanto ainda teremos que viver para entender um pouquinho só de tudo isto! Não me levem a mal, não quero parecer um sujeito piegas, meloso, nada disso. Entretanto, mais uma vez, eu vim aqui para falar de amor. Não de amor por uma mulher. Nem pela pátria. Nem por uma causa. Nem pelas coisas. Mas um amor súbito e não por isso menos belo que todos os amores que fervilham na face da Terra, sitiados por tanto ódio que se vê nos jornais, que se enxergam nas ruas, por vezes nos olhos das pessoas. Quero falar do amor para com um ser pequenino, indefeso, extremamente carente, que um belo dia, apareceu em nossas vidas assim, como que por acidente. Assustado, mas absolutamente lindo pela sua pureza, pela sua fraqueza, ou mesmo lindo por sua inexplicável beleza. Primeiro, ele chegou, apenas. Depois, conquistou um a um daquela casa e ao final, até os visitantes. Se fosse um castelo, a criadagem certamente teria boa parte do dia para cuidá-lo. Se fosse em um reinado, o rei certamente teria sempre um olhar de ternura para ele. E Duques, Vizires, Condes, Emires, toda a nobreza local ou estrangeira teria um minuto do seu dia para apreciá-lo. Mesmo que pudesse nos ouvir agora, ele não entenderia jamais estas palavras. Mas talvez tenha sentido o tempo todo em que convivemos, curto tempo, nossos olhares, nossas mãos, nossos carinhos, nossa atenção. Porque o amor não precisa de grandes formas, de grandes seres, de dimensão para acontecer. A grandeza do amor está na exata proporção de sua intensidade, não obstante quem dedique ou quem receba. Então, foi bonito. Muito bonito. Todos nós amamos aquela criaturinha como se fosse um bebê recém-chegado em nossas vidas e a ela dedicamos, sim, muita ternura. Mas um dia, sem aviso, sem despedida, veio a agonia. As partidas com despedidas são terríveis, mas as que não as têm, são piores. Não houve uma marcação, um tempo, um portal para a ausência. - Apenas um telefonema. Um aviso. Uma lágrima. Um soluço. Uma viagem para fora de mim mesmo, de tudo, por um segundo, mas bem longe, muito longe daqui, talvez para tentar resgatá-lo. Talvez para assimilar a notícia. Pronto. Se foi. E assim, termina aqui uma história tão pequenina quanto o seu protagonista. Segue apenas uma dolorida saudade e uma vontade louca de dizer que ainda te amamos muito mesmo, Pedrinho!

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Em tempo.- Pedrinho foi um lindo filhote de bem-te-vi que caiu do ninho na Barra da Tijuca às margens da lagoa, foi recolhido à casa por Dona Neusa, conquistou a todos por alguns dias mas não resistiu à ausência da mãe, vindo a morrer na palma da mão de Andréa Beatriz. Todo mundo chorou nesse dia.

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