quinta-feira, abril 25, 2002


Paulo Angelim fala da Síndrome do coitadinho



Eu sei que você não deve agüentar mais ler alguma coisa sobre o BigBrother.
Mas, você já parou para pensar que o resultado da votação do BBB
é o próprio reflexo do país que somos e queremos ser?
Não, não me refiro ao fato deque o Kleber representa o típico brasileiro.
Infelizmente, isso aí está na cara,e já foi suficientemente explicado.
Eu me refiro ao critério que o brasileiro usou para escolhê-lo.
É isso que me preocupa.
Peço que você leia este artigo estabelecendo um paralelo com o reality show corporativo.
Aquele confinamento que uma grande parte da população tem que se submeter
por oito ou mais horas,diariamente.
Penso que se há alguma coisa a se aproveitar em programas do tipo BBB
é aprendermos muito sobre relacionamento interpessoal.
Essa competência que já povoa as prateleiras das livrarias
e tem dado muito lucro para instrutores e palestrantes.
Afinal, qual era o critério de escolha para eleger o vencedor do BBB?
Aí reside um dos grandes furos do programa.
A falta de um critério sugerido deixou que o público definisse o seu próprio critério.
Infelizmente, essa também é umarealidade dentro das empresas.
Ou você nunca viu aquelas situações em que
a voz invisível dos escritórios e fábricas ecoa pelos corredores,
em bom e alto som, o seguinte mantra: "mas, que diabos de critério
foi usado para escolher o Fulano para aquele cargo?".
Bem, foi exatamente na falta de critério do BBB
que me veio a grande decepção.
Supostamente, o critério deveria ser o de melhor habilidade
em conviver com o grupo (relacionamento interpessoal).
Aquele que mais promoveria a interação e que
menos colidiria com os companheiros.
Aquele que agente chama nas empresas de "gente boa" ou "boa praça".
Ora, se o critério fosse esse, ninguém melhor que o André, com sua
criatividade, descontração eenvolvimento, para ser o escolhido.
Se o critério fosse o equilíbrio de comportamento,
a lisura e correção moral nos procedimentos,
ninguém melhor que Vanessa para representar a moderação,
pudor e valorização dos bons costumes.
Tudo perfeito se não fosse por um único probleminha:
o povo brasileiro está mandando às favas esses predicados e atributos.
Vale para o brasileiro, segundo Nelson Rodrigues um "Narciso às avessas",
premiar quem mais precisa e não quem merece, não quem fez por onde.
Existe no brasileiro um sentimento
que podemos chamar de "síndrome do coitadinho".
Quando o brasileiro escolhe alguém como o Kléber,
ele passa uma mensagem clara para todo o país
que vencer na vida é uma loteria.
É uma questão de tirar a sorte grande.
Nada de estudar, de desenvolver uma profissão convencional, ou não.
O negócio é ter um corpo sarado, um rosto bonitinho, e sonhar com os palcos.
No "modo de vista" da maioria do nosso povo, o caminho para o sucesso,
para o crescimento, não passa pelo desenvolvimento intelectual,
cultural, pelo estudo.
Isso é coisa para os babacas.
Parece que o povo ainda acredita que a redistribuição de renda no Brasil
não deve ser feita disponibilizando-se condições mínimas de educação,
habitação e saúde para que esse povo possa crescer como gente.
Acredita que ela deve ser feita soltando dinheiro
de dentro de um avião sobrevoando os "mais pobres". Esmolas.
O povo pode até dizer outra coisa, que estudar é importante,
mas nomomento que age assim, elegendo uma massa de músculos
com o mínimo de cérebro, passa a mensagem clara para a nação,
principalmente para as crianças, que, na verdade,
o que vale é o estético, a forma, a imagem, e não o conteúdo.
Isso é celebrar um pacto pela mediocridade,
isso é nivelar por baixo, e não pelos melhores.
Perguntem as garotas se gostariam de ser uma Vanessa.
Lógico que não.
Afinal, que valor pode haver em ser equilibrada, culta e "cabeça"? "
Queria ser como a Xaiane, ou a Helena, para aparecer no site do Paparazzo".
Aquela máxima de "aja hoje como alguém que você gostaria de ser,
e acabará se transformando no que deseja" parece não valer para nosso povo.
Ou, na verdade, o que eles querem mesmo é ser Xaianes e Klebers.
Não tenho nada contra o Kleber. Reconheço que ele tem um bom coração,
tem uma certa ingenuidade infantil que cativa e deixando nosso coração
sensibilizado.
Mas não ter nadacontra alguém é bem diferente de ter algo a favor.
Lembre-se que se trata de uma pessoa que teve oportunidades de crescimento
intelectual e profissional, mas preferiu dar as costas a elas.
Escolhê-lo é validar essa atitude, é tentar compensar o erro com um prêmio,
ao invés de uma boa palmada.
Escolhê-lo é dizer: "é esse o país que eu quero
ser, é esse o povo que eu quero ter".
E nas empresas?
Espero que não seja essa a realidade de sua organização.
Que nela, a cultura empresarial valorize o crescimento por mérito,
e não por necessidades.
Caso contrário, você poderá estar implantando
a nefasta e medíocre"Síndrome do Coitadinho".
E aí, não se espante em colher os frutos que plantou.
Afinal, "faiz parrrte!"

Abraços, bênçãos e SUCESSO!

Paulo Angelim
http://www.pauloangelim.com.br


a propósito...

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